Trilha de sábado resgatou lixo que participantes jogaram na prova
A julgar pelo lixo recolhido anteontem ao longo do trecho percorrido na sexta-feira e no sábado 20 e 21 do corrente pelos participantes do 19° “Raid da Meia Noite”, a comunidade jipeira de Natal e do Rio Grande do Norte ainda precisa de muito esforço de conscientização para se aperceber do mal que pratica ao jogar porcaria por onde passa.
Longe de fazer jus à máxima de que por onde anda o jipeiro só deve deixar os rastros dos pneus e de sua dignidade, os tripulantes dos mais de cinqüenta veículos que foram inscritos para o evento espalharam ao longo dos 35 quilômetros deste “Raid” (pronuncia-se “raid”) lixo suficiente para encher a caçamba de um reboque convencional, de pouco mais de 1,50 metro de largura por um pouco mais de comprimento e oitenta centímetros de profundidade.
Este não exatamente é parte com que os jipeiros contribuíram para constituírem o volume de lixo que a expedição realizada anteontem pela Trilhamiga coletou ao longo do trajeto do “Raid da Meia Noite”, vez que os voluntários mobilizados pela limpeza de trilha resolveram agregar também volumes que aparentemente estavam na área a bem mais tempo do que uma semana, face à ameaça que ofereciam ao meio ambiente.
LATINHAS
O material com aparência de algo largado sete dias antes da varredura chegou a 80% do volume total, que a Trilhamiga despejou num depósito governamental de lixo. Acontece, porém, que uma outra varredura havia sido feita em plena ocasião da realização do “Raid da Meia Noite” pela tripulação do “Em Vez de Bodas de Prata”, o jeep Willys verde pertencente ao empresário e técnico em petróleo Magnaldo Alves Pereira, o “Magaiver”, e pela descrição volumétrica que ele forneceu a respeito do material recolhido na sexta-feira 20 e no sábado 21, a soma do que foi coletado nas duas missões de procura preencheria todo o reboque utilizado anteontem pela Trilhamiga.
Algumas observações se tornam imprescindíveis a respeito do material coletado.
Uma se refere à qualidade do lixo despejado. Como salienta a empresária Valéria Souza, que participou da expedição de limpeza de trilha ao lado do marido, empresário Eudo Laranjeira, e de uma sobrinha, a bordo do Troller prata pertencente ao casal, a imensa maioria do que foi jogado sobre o leito e nas laterais das veredas percorridas pelos participantes do “Raid da Meia Noite” era formada por latas de cerveja. A observação de Valéria não inclui latas de refrigerante e nem mesmo de cachaça.
Em segundo lugar, os jipeiros largaram materiais que não devem ser despejados em lugar algum, exceto em espaços indicados para recebê-los, em virtude de seu elevado grau de toxicidade.
ÓLEO QUEIMADO
Os voluntários mobilizados anteontem encontraram dois galões de plástico com capacidade para cinco litros e adornados por adesivos que indicavam tratar-se de óleo lubrificante para motores. Um vasilhame continha originalmente óleo para motores a diesel; o outro deveria ter servido a princípio como reservatório para óleo destinado a motores movidos a gasolina. Nos dois casos, como constatou o empresário Carlos André Medeiros Jerônimo, o “Tomate”, os galões não continham óleo virgem.
“Tomate”, a propósito da surpresa causada pelo conteúdo encontrado nos dois vasilhames, imaginou que jipeiros muito acostumados com motores que perdem muito óleo devem ter conduzido o líquido já usado para completar o nível em determinados instantes e espaços do deslocamento do comboio. Ou então alguém levou óleo queimado com o propósito de besuntar-se na esperança de assim evitar ataques de mosquitos ao longo da viagem, que mobilizaria muita gente durante a madrugada da sexta-feira 20 para o sábado 21.
MATERIAL DO CLUBE
Os limpadores de trilha se surpreenderam com o grande volume de material que não foi largado ao longo do percurso por simples participantes do “Raid da Meia Noite”, e sim pelos organizadores do evento. É o caso de muitas varas semelhantes a cabos de vassoura às quais deveriam permanecer durante anos longos pedaços de fita zebrada preta e amarela, a famosa “bump”, que organizadores de trilhas utilizam para sinalizar determinados trechos, a título de simples orientação quanto a rumos e também a fim de prevenir jipeiros contra perigos existentes em curvas e outras adversidades. Num determinado lugar, a equipe encontrou uma longa vara de bambu afixada a um cano de ferro para sinalizar de um ponto mais elevado do que os demais.
Chamou a atenção dos integrantes da expedição de coleta de lixo, também, o fato de nem sempre um material ser largado ao longo do percurso graças à falta de educação ambiental em jipeiros. Uma placa de identificação de veículo que foi localizada nas proximidades do “Dedo do Pirata” sugere ter-se destacado do jipe inteiramente à revelia da atenção de seu condutor.
RODOVIÁRIOS PRESERVAM
Realizado por um comboio diminuto, o qual contou também com a colaboração do veterano Leonardo Furtado, o famoso “Léo da Bonanza”, que fez questão de levar seu neto Marcel, de doze anos, para participar da limpeza de trilha a fim de mostrar-lhe na prática o que não se deve fazer em detrimento da natureza, o trabalho de coleta de lixo deu ensejo a pelo menos uma grande alegria. Foi a constatação de que nem todo “off road” adora emporcalhar os caminhos por onde passa.
Ela foi proporcionada pelos participantes da trilha que o sindicato dos policiais rodoviários federais residentes no Rio Grande do Norte promoveu neste sábado, para comemorar o transcurso, dias antes, do 99º aniversário de criação de sua corporação. Durante bom tempo de seu trabalho, os participantes da operação de limpeza de trilha percorreram o mesmo trajeto feito pelo comboio mobilizado pelo sindicato dos policiais rodoviários, e os coletores constataram que em nenhum pedaço daquele trecho havia lixo novo.
Integrantes do comboio da Trilhamiga fizeram questão de enaltecer esta conduta em pronunciamento que fez através do “simplex” dos jipeiros, recebendo em seguida os agradecimentos de participantes da caravana dos patrulheiros, com a explicação de que antes de iniciarem o deslocamento os líderes daquela formação haviam feito uma preleção sobre a necessidade de todos ajudarem a preservar a natureza por onde passassem.
FONTE:
JORNAL DOS JIPEIROS (via e-mail)
Edição N° 502/2007 (*)
Natal, segunda-feira, 30 de julho de 2007,
Jornalista Responsável: Roberto Guedes (RG151-DRT/RN).